É cedo mas quero falar-vos de um assunto.
Há pouco tempo atrás fui a uma entrevista. Sabia que era para uma loja de malas que iria abrir. A faixa etária no anúncio era dos 18 aos 40 anos! Haviam 2 vagas, uma para responsável de loja, outra para part time. Percebi de imediato que era uma responsável de loja a full time [que faria tudo portanto] e um part time para fazer as pausas e complementar [clarinho como água]. Estas eram as duas premissas que sabia antes da entrevista.
A entrevista foi marcada num sábado às 8 da noite [hora estranha e pouco adequada para marcar uma entrevista] mas no dia combinado lá estava eu.
Enquanto esperava, vi saírem umas 12 raparigas [havia para todos os gostos, altas, magras, gordas, ruivas, loiras, com unhas de gel de várias formas, com piercings e sem. Era só escolher]. Pelo ritmo percebi que teria vindo ao engano.
Entrei. Percebi de imediato pelo olhar que o tipo apenas me queria ver, mirar, olhar. E apeteceu-me sair. De imediato. Não tinha lido o meu currículo sequer, não sabia nada de nada de mim, e percebi que ele nem sequer percebeu porque me candidatei a responsável de loja, porque nem viu a experiência que eu tinha. Porque ele queria recrutar pelo aspecto. Ponto. E eu já fiz recrutamento e sei que o aspecto conta, não podemos é deixar que os candidatos percebam isso no dia. Como se fossem carne para canhão. Quando saí estavam mais umas 10 à espera e percebi de imediato que se não fosse a escolhida era uma sorte. Vender malas de viagem numa loja de rua, numa zona movimentada da cidade [mas para quem quer beber imperiais] .. não me parecia coisa fácil.
Estava, como hão-de perceber, curiosa de perceber quem teria ficado [entre as 200!!eu perguntei] e já vi. E sim foi carne fresca e airosa. E eu não me vou abaixo porque entretanto arranjei algo de que gosto muito mais e me traz uma rentabilidade muito maior, para além de todas as vantagens, mas tenho a certeza que se não tivesse nada, isto me teria deixado em baixo.. Porque a minha pele já não tem a firmeza de outrora, porque já não tenho 20 anos, e porque estou longe dos padrões que ele, afinal, pretendia.
Nunca me esquecerei desta experiência. Nunca me tinha sentido tão humilhada, tão olhada, numa entrevista onde a minha experiência em nada foi relevante. As mulheres têm muito caminho para palmilhar, começar por explicar àquele homem que deveria ter feito tudo de outra forma, era um bom princípio. Porque isto não mata, mas mói muitíssimo.
Bom dia para esse lado.
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